Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

quinta-feira, março 01, 2007

Foliões e outros gozões

O país pode estar a encolher geograficamente – com o mar a reclamar pedaços que não fizeram parte dos planos de conquista de D. Afonso Henriques, e lhe tinham sido roubados, muito depois do tempo dos afonsinos, para agricultura de subsistência e vivenda de praia – mas cresce intelectualmente no disparate e cretinice. Nas terras do funcho, onde as flores servem para fazer álcool, e as obras públicas são papo-seco para a classe trabalhadora e marisco para a empreendedora, desenrodilha-se mais um gracioso episódio da novela do Portugal democrático.

O vice-rei da Madeira, depois do Sr. Silva ter promulgado a Lei das Finanças Regionais, acordou um soalheiro dia sem dobrões de ouro no cofre para sustentar a sua paixão por charutos e estradas. Olhou pela janela do palácio, para o galeão fundeado na enseada, e pensou juntar-se ao corsário Jack Sparrow das fitas americanas numas viagenzitas de rapinagem pelas movimentadas águas asiáticas. Se, como narra Jorge Luis Borges na “História universal da infâmia”, a viúva Tching dominou desde o mar Amarelo aos rios da fronteira do Aname, ele, que tinha testículos, subjugaria os mares da Suiça e os lagos de Arrakis (ou Dune – no livro de Frank Herbert ou filme de David Lynch). Mas os Comandos Unificados Norte-Americanos, instalados nos cinco continentes para defender os fracos e oprimidos e destetados da Democracia, dissuadem os piratas não autorizados de abordar as naus transportadoras dos tesoiros que, pela alta carga fiscal, valem a pena roubar – electrónica e tabaco. Por outro lado, os piratas da perna de pau e olho de vidro receiam ser confundidos com cruéis terroristas, pois nesse caso serão abatidos como cães e lançarão o opróbrio no nome da família até ao dia do juízo final. Um futuro mais triste que Herman Melville ao publicar o seu “Moby Dick”, do qual apenas vendeu sete exemplares e lhe garantiu lugar entre os escritores pobres e esquecidos. Na altura da sua morte até o “The New York Times” lhe trocava Herman por Henry. (Nos dias do Império Coca-Cola nem aparecendo um descendente como o frequentador de hotéis Moby, com reconhecido sucesso no hit parade, reabilitará os nomes bin Laden, al-Zawahiri, al-Zarqawi ou John Kerry).

Outra ideia lhe perpassou pela tola. Porque não empenhar algo pessoal? Quando o caminho marítimo para a Índia transportava especiarias para melhorar o sabor da vianda nas cortes europeias o estratagema tinha funcionado. Em 1546, D. João de Castro, aflito para restaurar a fortaleza de Diu, que escaqueirara durante a conquista, revirava céu e terra na eterna procura daquilo com que se compra melões e paga pedreiros. Governador sem recursos transferidos de Lisboa ou saco azul lembrou-se de desenterrar os ossos de seu filho Fernando no intuito de usá-los como garantia num empréstimo. Mas aquelas cálidas terras humedecidas pelas monções estragaram-lhe os planos. O esqueleto estava em tão mau estado que não conseguiria um rei furado por ele. Sem fortuna familiar, só possuía de seu, o corpo e os baratos trapinhos que o envolviam, não tinha outra hipótese. Tinha que empenhar o corpinho. De preferência uma parte destacável. E empenhou as barbas à Câmara de Goa, que espantada pela originalidade, lhe desenrascou os 20 000 pardaus necessários para a empreitada. Infelizmente nos dias de hoje os pêlos, se não for o cabelo de Britney Spears, não têm valor comercial. Os bancos dirigidos por gestores pataqueiros ultrapassaram a fase do cabelo e vão directos ao coro. E além disso ele era desbarbado. Como azemeleiro de um povo com os olhos postos em frente rapava os queixos todas as matinas para moda e estética. Portanto, não havia nada para empenhar a um marajá da Banca.

Podia apertar o cinto. Governar esbanjando menos. Mas uma besta política (no sentido aristotélico) não anda às arrecuas. Não subtrai, adiciona. Mais gastos. Mais impostos. Mais desenvolvimento. Mais progresso. Mais caras felizes. Então, o Alberto João Jardim chofreiro falou mais alto. Deu-lhe um repente e esbodegou o Governo Regional. Com isto espera chatear os badolas de Lisboa. Não me dão dinheiro provoco uma crise. (Embora o cidadão normal não veja onde está a crise. Não haver Governo na Madeira pode interferir com os finais das vindouras telenovelas e outra ficção nacional em geral, dificultando o trabalho dos Manuel Aroucas ou Moita Flores do futuro). Entalo o Governo socialista. Estrago-lhe a imagem seráfica do país. Deita Sócrates os bofes pela boca para abiombar o atraso da pátria com um discurso para Bruxelas ver. São sucessos atrás de sucessos. Este governo tem o toque de Midas. Tudo onde toca medra. As empresas na hora saem melhor que pastel de nata em dia de jogo para a Taça no Restelo. O monstro da Justiça foi trespassado com a espada de S. Jorge da estatística. Peritos e cientistas produzem relatórios mais maravilhosos e correctos que a Bíblia para um evangélico. Um simples homem bem remunerado faz milagres na Direcção-Geral dos Impostos. A burocracia é ferida de morte com o Simplex. A investigação científica vai de vento em popa, ou melhor, pelo seu cariz ultra-avançado, de motor fora de borda em popa…. E agora aparece um responsável autarca com um comportamento de criança mimada para trazer de volta ao mundo a ideia do portuga choramingas. (Quem o esqueceu? Pelos corredores da Europa a pedinchar subsídios).

Em Portugal, com o número crescente de foliões na política, o Carnaval é quando um homem quiser. Que haja eleições todos os dias até nem é mau. Assim com assim saem mais baratas que organizar um corso e dá circo ao povo, e Alberto João sabe como animar um salão (uma rua, um bairro, uma cidade, um país…). O presidente do seu partido, apesar de ser mais chato que o Music For Airports, do minimal repetitivo, Brian Eno, também é maluquinho por uma festarola. No barulho da música foge-lhe o pezinho para a dança. Não há melhor que a festa do voto para clarificar pontos de vista e revigorar políticos. Todos eles sabem que cada acto eleitoral é uma oportunidade perdida para esladroar a árvore da política nacional dos ramos perniciosos e que ganham sempre os mesmos. E a pretensão de marcar a data para 13 de Maio dará o toque providencial que todos os portugueses amam na sua elite.

Por sorte o voto secreto mantém o suspense. Ninguém sabe quem vencerá na Madeira. Faz lembrar aquelas eleições na Câmara de Lisboa para o tacho principal na Sociedade de Reabilitação Urbana da baixa pombalina. Após as últimas eleições autárquicas, apaniguados do presidente e oposição estavam empatados na contagem de votos. Para ter maioria governável, Carmona Rodrigues fez uma coligação com o único CDS no quórum – Maria José Nogueira Pinto. Parecia que a edilidade estava lançada para durar, não mil anos, mas uma legislatura. Eis quando surge a malfada escolha. Terminada a contagem dos votos o nome proposto por Carmona para o cargo perdeu. É difícil calcular quem votou contra.

4 Comments:

  • At 11:11 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Chatice! Depois de ter resistido até á última foi obrigado a mudar para o blogger da Google. Agora esta porcaria só diz que há itens seguros e não seguros. E ainda não consegui ver a diferença entre o sim e o não. Talvez seja o relativismo que os papistas tanto temem que se apossou dos comentários nos blogues.

     
  • At 2:05 da tarde, Blogger Armando Rocheteau said…

    Não te preocupes que a coisa funciona e a postagem até é mais rápida.
    Aqui te deixo também os meus parabéns pelo post.
    Abraço,
    Armando

     
  • At 1:25 da tarde, Blogger A Chata said…

    Se os noticiários adoptassem uma linguagem mais 'telenoveleira' para relatar os romances e comédias em que se transformou o dia-a-dia do país as telenovelas nacionais e brasileiras perderiam por completo as audiências.

    Não perca o proximo episódio de "Paixão Descontrolada", cenas escaldantes em quartos de hoteis, bares de alterne e balneários desportivos.Será que a paixão nacional conseguirá sobreviver?

    "Minha Universidade Querida", comédia com o trio da vida airada Cocó, Ranheta e Facada.

    "O último reduto dos Tachos" ou "Um Pai em apuros" . Que irá acontecer depois da última reunião para salvar a baixela da familia?

    Até se podia criar um telenovela :

    "Aonde foi parar o dinheiro (da Camara, das instituições de solidariedade, do futebol, das Universidades,etc...)?"

    Afinal esta a pergunta que mais se faz neste país...

     
  • At 2:20 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Não percebo o ensino superior em Portugal. Há sempre uma família ao barulho. Na Moderna, os Braga Gonçalves. Agora, os Aroucas. Será que são pequenos negócios familiares?

     

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