Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

sexta-feira, outubro 04, 2013

Empenha-se o ouro

1983. Ano de noites escuras, serões curtos - “montras às escuras a partir das 22 horas e TV encerrada às 23. Seca impõe austeridade nos consumos de energia” [1], 1983 teve boas novas: o salário mínimo subia para 13 contos [2]. Benditos “aqueles que querem colocar o seu saber e a sua experiência ao serviço do país” [3] que, de sua pichorra tanto deram de beber ao povo, avinhando-o. Povo inebriado assim anaça tanto quanto Marica Linn [4], pois aqueles “pela pátria”, pátria abastada erigiram - (Pedro Martins, secretário de Estado do Emprego, (2011): “o salário mínimo não é não é, em termos relativos, realmente baixo em Portugal”).
Esta riqueza idiossincrática, signo-de-salomão de Portugal, tem salvado o país dos maus Governos. Dois anos de Pinto Balsemão endividaram-no como um boss (alcunha de Balsemão em família). “Os encargos anuais da dívida externa, que em 1979 equivaliam a 5 % do défice comercial de Portugal, atingiram em 1981 um pouco mais que o quinto desse défice, ou seja, 21,9 %. Isto significa que, se em 1979 Portugal teve de remeter ao estrangeiro 537 milhões de dólares para liquidar juros e amortizações da sua dívida, dois anos depois, esses encargos anuais subiram para 1114 milhões de dólares, o dobro portanto” [5]. Em números, divididos por cabeças nacionais, “cada português deve um pouco mais de 120 contos à banca estrangeira. A dívida portuguesa era de 13 mil milhões de dólares em fins de 1982, o que significa 1200 milhões de contos”. Se nos cofres do Estado não chovia, cá nevava, fazia-se cá ski. Sexta-feira, 11 de fevereiro “Portugal mascarado de ‘país do norte’, até em Estremoz nevou… como em Bragança, Vila Real, Viana, Porto, Coimbra, Figueira da Foz, Aveiro, Viseu, Leiria, Guarda e Portalegre”. “Na região de Portalegre, (Estremoz teve o seu maior nevão desde 1950) onde não caiu neve houve neblina. As capitais da Europa estavam esta manhã praticamente cobertas de neve, salvo Madrid (bruma), Bruxelas (neblina), Roma (vento forte) e Copenhaga e Oslo: céu encoberto e nublado” [6].
Até às eleições a 25 de abril… empenha-se o ouro para pagar as dívidas… depois chegará o FMI [7]. “O Banco de Portugal estabeleceu contactos discretos com o presidente do Banco de Pagamentos Internacionais, Fritz Leutruller, no sentido de obter empréstimos a curto prazo, garantidos pelas reservas de ouro do país, que devem situar-se nesta altura entre 650 a 700 toneladas [8]. (…). Estes empréstimos visam atenuar os problemas de liquidez resultantes da gigantesca dívida externa acumulada pelo Governo em dois anos de exercícios desastrosos (Pinto Balsemão elevou a dívida para o dobro). (…). Os empréstimos garantidos pelas reservas de ouro darão para aguentar até às eleições e à formação do novo Governo. Depois das eleições, o Banco de Portugal tenciona negociar um programa de fundo com o FMI que permita obter novos recursos libertando-se então o ouro empenhado. (…). A dívida externa portuguesa é a 22.ª do mundo em valor global, mas uma das mais gravosas de todas em termos de endividamento per capita (cerca de 1300 dólares = 120 contos). Esta dívida ultrapassou o limiar crítico que os técnicos fixam em 20 % das receitas de exportação. A dívida portuguesa já vai em 23 % das exportações”.
No ano de 83, na pérola do Atlântico, as ostras alapavam-se no génio da governação [9]. “As onze Câmaras Municipais da Madeira têm um défice para o ano corrente calculado em 10 milhões de contos. A situação difícil assim esboçada tem por pano de fundo uma dívida da região à banca no valor de 12 milhões. Os habitantes do arquipélago terão estado fascinados, durante todos estes anos, pelo ritmo impressionante que foi imprimido a numerosas realizações. O dinheiro nunca faltou para garantir as inaugurações de tanta obra no círculo fechado das duas ilhas. A torneira, porém, foi fechada, curiosamente pela mão de Cavaco Silva [enquanto ministro das Finanças de Sá Carneiro]. Tal facto poderá comprometer a popularidade de João Jardim e a concretização das promessas eleitorais”. Ou não [10].
Numa entrevista ao jornal Correio do Minho, Zeca Afonso acusava a administração da RTP que invocava má qualidade do filme, pela não transmissão na sexta-feira dia 18 de fevereiro da gravação do seu espetáculo de 29 de janeiro no Coliseu dos Recreios: “isto é uma infâmia da televisão à qual o semanário Expresso está a dar cobertura. (…). O Luís Cília telefonou-me desmentindo que alguma vez se tenha pronunciado contra a qualidade do filme, o mesmo acontecendo com Luís Filipe Costa. (…). O filme está bom e só não passa porque a administração da televisão não quer. Eles têm medo de o passar porque digo umas coisas no meio do espetáculo que são um elogio ao período revolucionário de 1975 e isso assusta-os” [11]. Neste ano, o panorama musical remexia com o grupo de dança-jazz Xokmaiô “Show na Broadway” – são eles Cristina Chafirovitch, Sofia Chafirovitch, Zeca, Cristina Salles e Fernando Cruz, e a música de Tó-Zé Brito, António A. Pinho, Pedro Brito. E os Heróis do Mar lançavam o maxi singlePaixão”, o baixista Pedro Ayres Magalhães: “embora tivéssemos sido considerados uma das dez melhores bandas da Europa, pela The Face e pela Rock & Folk, e a Actuel nos tivesse considerado uma das cem melhores ideias da década, o certo é que, por cá, nunca tivemos nenhum dinheiro nem apoio, nem para a casa, nem para o carro, nem para as contas nem para nada... Foram muitos anos de uma vida difícil” [12].
Em 1983 é coroada a primeira (e única) Miss Universo neozelandesa, Lorraine Downes – foto c/ o primeiro-ministro Robert Muldoon e a mulher Thea. Lorraine Downes 1,74 m, 56,1 kg, cabelo loiro, olhos cor de avelã: “sou uma pessoa muito reservada e na verdade não gosto de estar na mira do público, para ser franca. Coisas maravilhosas vieram do título Miss Universo, mas a parte em que se vai ao supermercado e as pessoas nos reconhecem, realmente não gosto”. A sua filha, Jasmine, treina 15 horas por semana na Mount Eden Ballet Academy, treina também jazz e dança contemporânea. “Toda a relação mãe / filha torna-se stressante, diz Jasmine. Mas nós damo-nos muito bem, exceto na questão da arrumação. Sou uma adolescente, posso ser um bocado desleixada, mas ela vai ao meu quarto e arruma”. Nesse ano, a 6 de junho, nascia a bem arrumada atriz porno Katie Jordin. 1,70 m, 55 kg, 86-60-86, cabelo castanho, olhos cor de avelã: “adoro realmente o meu trabalho e desfruto. Quero representar bem, quero ser fodida bem, quero fazer uma grande carreira, para mim e para os meus fãs. (…). A grande coisa, toda gente acha especial, são as minhas ancas e o meu rabo. As pessoas querem sempre ver-me fazer anal. E já fiz anal antes, só que o fiz com dois namorados que tive na minha vida pessoal. Mas isso foi há muitos anos. Passou taaanto tempo desde que algo esteve nessa zona. Por isso, quero esperar até estar pronta para fazê-lo outra vez, mas é algo que quando o fizer não será pela primeira vez, mas quero esperar até quando estiver pronta, penso que algumas pessoas simplesmente o fazem no princípio de tudo, não, quero estar pronta, tipo, levar com essa piça no meu rabo”: “page 1 - xvideos” ▪ “Penthouse” ▪ “Heavenly Babe”.
___________________
[1] Terça-feira, 8 de fevereiro o Conselho de Ministros aprovava: “a proibição de iluminação a partir das 22 horas de montras ou interiores de estabelecimentos, exceto durante o seu período de funcionamento, incluindo nestes os prolongamentos de horários e serviços complementares (limpeza e similares). (…). Também os anúncios luminosos deverão ser fechados a partir das 22 horas, não estando abrangidos os de sinalização de estabelecimentos de interesse público quando em funcionamento, como é o caso de farmácias, postos de enfermagem, bombeiros, postos de gasolina e sinalização de unidades hoteleiras. (…). Compete ainda à EDP controlar o cumprimento do fecho da emissão da RTP até às 23 horas, exceto aos sábados, dias em que poderá prolongar-se a emissão até às 23:30 horas, e a proibição da iluminação exterior de edifícios públicos, monumentos, fontes luminosas e semelhantes”.
[2] “Corresponde a um aumento de 17 %, em relação aos valores anteriores, o novo salário mínimo nacional fixado pelo decreto-lei 47/83, (…), para entrar em vigor, com efeitos retroativos no dia 1 de janeiro. O salário mínimo para os trabalhadores do serviço doméstico passa, assim, para 8300 escudos, no setor primário (excetuando as minas), agricultura, pecuária e silvicultura, passa para os 10 900$00 e os restantes trabalhadores foi fixado em 13 mil escudos. Estes aumentos enquadram-se no controverso teto salarial, ou norma salarial, como lhe chama o Governo e que, também por legislação saída no jornal oficial, aponta para os 17 % como limite máximo dos aumentos da massa salarial anual. Segundo o decreto-lei n.º 48/83, assinado pelos ministros das Finanças e Plano, [João Salgueiro], Trabalho, [António Queirós Martins], Assuntos Sociais [Luís Barbosa] e Agricultura e Comércio, [Basílio Horta], os aumentos salariais que excederem os 17 % / ano ficam sujeitos a uma contribuição extraordinária para a Segurança Social fixada em 30 % para a entidade patronal e outro tanto para o trabalhador”. A tabela: “o salário mínimo para os trabalhadores do serviço doméstico, com idade igual ou superior a 20 anos é de 8300 escudos, sendo de 6225 escudos para os de idade igual ou superior a 18 anos e inferior a 20 anos, e de 4150 escudos para os que tenham menos de 18 anos. Nos setores da agricultura, pecuária e silvicultura, as tabelas são de 10 900, 8818 e 5450 escudos, conforme os escalões referidos. Para os restantes trabalhadores o salário mínimo é de 13 000, 9750 e 6500 escudos de acordo com o mesmo princípio”. Em 1983 funcionário público ainda era profissão e os velhos tinham trocos para o porquinho mealheiro dos netos. “Pinto Balsemão entregou sexta-feira, dia 18 de fevereiro a Ramalho Eanes o decreto-lei sobre aumentos salariais de 17 % para a função pública, aumentos que, segundo afirmou o primeiro-ministro, após o encontro em Belém, serão também aplicados às pensões”.
[3] Em agosto de 2013, Joaquim Pais Jorge, secretário de Estado do Tesouro, apenas amornou o cargo, nem um mês no gabinete novo, será pouco tempo para fazer História? Não. Quando se demitiu, quando rebentou o seu passado de vendedor de porta a porta (ministeriais) do Citibank, o seu comunicado de demissão é uma obra-prima: “as notícias vindas a público nos últimos dias, em que uma apresentação com mais de oito anos foi falseada para que incluísse o meu nome, revelam um nível de atuação política que considero intolerável. A minha disponibilidade para servir o país sempre foi total. Não tenho, no entanto, grande tolerância para a baixeza que foi evidenciada … foram exploradas e destorcidas declarações que fiz sempre de boa fé. É este lado podre da política, de que os portugueses tantas vezes se queixam, que expulsa aqueles que querem colocar o seu saber e a sua experiência ao serviço do país … tomei esta difícil decisão porque nunca permitirei que controvérsias criadas sobre o meu percurso profissional, que não escondi, possam ser usadas como arma de arremesso político contra o Governo … saio sem qualquer arrependimento e de consciência limpa. Nenhuma manobra de baixa política poderia mudar a minha disposição de serviço à causa pública, nem de dedicação a Portugal”.
[4] “Gosto de sentir-me completamente dominada na cama. Qualquer posição onde não possa controlar o que vai acontecer a seguir, excita-me (sorriso). Posso sempre aprender algo novo”, Marica Linn i. e. Beautiful The Beast, 1,75 m, 73 kg, 86-61-112, sapato 43, olhos castanhos, pele castanha, é uma artista multifacetada de Cleveland, Ohio, “modelo, mãe solteira, aspirante a atriz, cantora, empresária, forte e instruída mulher de negócios preta”. Beautiful The Beast “sempre foi atraída pela música. Quando criança sentava-se no seu quarto e inventava canções para manter a mente ocupada enquanto os seus irmãos mais novos estavam na escola. Quando ela foi para a escola, ingressou no coro e ao longo dos anos manteve-se em quase todos os espetáculos do coro que a sua escola ofereceu”. O seu tipo de homem: “ele tem que ser temente a Deus, ambicioso e determinado, instruído, forte, e tem que ter algum negócio (algo que esteja a fazer, uma cena), e acima de tudo, verdadeiro. Posso lidar com muitas coisas, mas mentir não é uma delas. Prefiro ter a honestidade brutal que ser enganada” {site} ▬ Beautiful The Beast (2011) ♫ 4.º prémios anuais Rebel Army Radio (2011) ♫ “Beautiful The Beast & The Rebel Invazion” (2013), filme documentário sobre a cena hip-hop underground de Ohio, filmado num concerto a 3 de junho de 2012 ♫ Mr. Prophecy, Citizen Richie, B-red-E feat: Beautiful The Beast “Sexy as She Wanna B”.
[5] “Portugal está ainda muito longe da situação de países como o México, o Brasil, a Polónia, a Roménia ou a Argentina, que se têm visto obrigados a solicitar a renegociação da sua dívida externa, por não conseguirem obter divisas suficientes para cumprir pontualmente os seus compromissos. (…). Enquanto nesses países, as balanças de pagamentos estão desequilibradas desde o primeiro choque petrolífero, em 1973, Portugal conseguiu em 1979, pelo afluxo de remessas de emigrantes, equilibrar transitoriamente a sua balança de pagamentos. O endividamento português é por isso mais recente. E só depois dos défices sucessivos registados na balança de pagamentos em 1980, 1981 e 1982, o serviço da dívida começou a ter um peso decisivo na balança de pagamentos com encargos reais da dívida externa”.
[6] Não era a Europa lugar para el bikiní màs sexy de la red; Sofia 1,70 m, 59 kg, 86-58-88, 100 % albanesa: “espero que eu no futuro seja bem sucedida no mundo da moda. Algumas coisas que gosto de fazer são: compras, ir à praia e ouvir música. Gosto apenas de descontrair e passar um bom momento com amigos e família. Oiço todo o tipo de música de rap ao rock. Qualquer coisa com uma boa batida que me faça querer levantar e dançar é perfeita para mim. A minha comida favorita de todos os tempos teria que ser… tudo. Sou também uma boa cozinheira”.
[7] Os mercados de capitais fechavam-se para Portugal. “Banqueiros internacionais, ouvidos pela agência France Press em Paris, garantiram que as condições dos empréstimos a Portugal devem necessariamente ser revistas e oneradas, o que significa que as taxas de juro no mercado internacional para os pedidos portugueses de liquidez vão se elevadas e a pressão dos credores internacionais começa a apertar, como um torniquete, à volta do Banco de Portugal. [Concretamente isto significa que as taxas de juro aos empréstimos contraídos no mercado internacional dos capitais serão mais elevadas, com um spread da ordem de 1 %, contra ½ ou 5/8 praticados até agora]. Para já, e que se saiba, a tentativa de subscrição internacional de um empréstimo de 150 milhões de dólares (14 milhões de contos) para a Caixa Geral de Depósitos não encontrou interessados pelo que aquela instituição financeira foi forçada a desistir dele e a procurar sucedâneos em condições mais gravosas”.
[8] “Valendo à cotação oficial 254,92 dólares a onça um pouco mais de 5 mil milhões de dólares. Ao preço atual de mercado (cerca de 500 dólares a onça), as reservas portuguesas de ouro ultrapassam os 10 mil milhões de dólares”.
[9] Um comício político em Portugal. Em 2013, o primeiro-ministro Passos Coelho ainda fabula a cigarra e a formiga: “nós sabemos que há fases da vida económica que correm melhor e outras que correm pior. A obrigação de gente sensata, que governa, é pôr de lado alguma coisa nos tempos de maior abundância, para poder valer aos tempos de maior restrição. Pois isso não foi feito durante muitos anos em Portugal. Durante muito tempo, quando a economia crescia, o Estado em vez de ter sido prudente, em vez de ter feito algumas reformas importantes, nessa altura, empurrou sempre com a barriga, nunca pôs nada de lado, pra poder valer nas situações de maior aflição. Ora, aquilo que se passa hoje é o resultado dessa inconsciência. Todas as nações, dum modo geral, são surpreendidas uma ou outra vez na sua vida, na sua História, por momentos de dificuldades. Nós temos sido surpreendidos vezes de mais. É importante recordar isso. Uma vez pode acontecer, duas vezes, já nos obriga a pensar bem, mas três vezes, chegar à situação de pedir ajuda externa em menos de 40 anos, eu não conheço nenhum outro país na Europa”.
[10] “A situação de abundância, por vezes ao ponto de não ser consumida toda a receita (aconteceu em 1980), prolongou-se até ao Ministério de Cavaco Silva”, que estabeleceu um critério novo. “O Orçamento Geral do Estado passou então a contemplar a região da Madeira, como o faz com qualquer outra. As verbas são distribuídas per capita a partir dessa altura. A partir de então, o OGE deixou de cobrir indiscriminadamente as faturas que eram apresentadas por Alberto João Jardim a). Até então, a prática era ver o que fazia falta e depois pedir quanto excedesse a capacidade de resposta do Orçamento Regional. A alternativa surgiu e uma nova via foi encontrada: o recurso à banca, com o aval do Estado, obtido nas repetidas viagens do líder madeirense a Lisboa”. Em fevereiro de 1983, com o Governo de Balsemão demitido, no Conselho Nacional do PSD, Alberto João Jardim cantava o bailinho de ó tempo volta pra trás: “o PSD à Sá Carneiro. Há que impor-lhe um discurso populista, basista (…) se o dr. Sá Carneiro fosse vivo já tinha dado dois coices naquela gentinha ali em baixo”. Ele, no entanto, não se candidatava a presidente do partido: “eu sou odiado aqui no continente. Não tenho hipóteses”.
a) Na festa do Chão da Lagoa em 2012, nega Alberto nega: “porque de Lisboa durante estes anos todos não veio um investimento que fosse. Lisboa pagou as polícias, pagou a tropa, pagou os tribunais, pagou tudo o que nos vigia. Não pagou mais nada, não sei o que ‘teve aqui a fazer”. E rasga consciência rasga: “o primeiro passo é consolidar as finanças, sem finanças consolidadas, a autonomia está comprometida. Eu não arrisco a autonomia, que foi aquilo que de mais caro e de profundo o povo madeirense conquistou c’a democracia. Eu não arrascto eu não vou arriscar a autonomia só para quebrar com a consolidação das finanças públicas”.
[11] “E estala a primeira das muitas explosões da noite: Vasco Lourenço, Otelo Saraiva de Carvalho, Rosa Coutinho e Maria de Lurdes Pintassilgo entram na sala. Raros são os que ficam indiferentes. É noite de abril, de fraternidade, ninguém esquece aqueles que fizeram abril e outros que, de uma maneira ou doutra, alimentaram o sonho que abril gerou. As palmas, quentes e generosas, insinuam-se na noite. Noite sem nódoa, não fora a reação criada com a entrada de Manuela Eanes, a esposa do presidente da República. Refugiando-se num maniqueísmo arcaico (…), uma parte da sala esquece o essencial e resolve apupar. Logo outra, quiçá mais consciente de que ninguém se pode apropriar de uma noite que não pertence a ninguém, a não ser ao Zeca Afonso, decide aplaudir”, Manuel Anta, em Diário de Lisboa. 
[12] Em 2012, o vocalista Rui Pregal da Cunha: “eu engordei os Heróis do Mar” – abriu no Terreiro do Paço uma ideia que lhe surgiu na Sicília, a casa de comes latas de conserva Can The Can: “porque não fazermos com o melhor que a nossa indústria conserveira tem para oferecer? Podemos empratá-lo, podemos misturar com outros sabores, podemos tirar um produto extremamente bom duma ideia em que ele estava fechado, que era comida de desenrasque ou de campismo. As pessoas têm-se sentado e ficam supercontentes de ter um produto de âncora português, que é bem visto lá fora, que exporta, que… e ‘tarmos a comer coisas deliciosas”. Can The Can, no Terreiro do Paço, situa-se antes da The sexiest WC on earth by Renova. Uma casa de banho pública que proporciona ao consumidor uma experiência única, Paulo Pereira da Silva, presidente da Renova: “neste espaço nós pretendemos mostrar a legitimidade que temos dentro do nosso setor de inovar, pretendemos que os cidadãos tenham uma experiência da nossa marca, que seja uma experiência diferente”.

na sala de cinema

The Marriage of Maria Braun” (1979), estreia quinta-feira, dia 13 de março de 1980 no cinema Londres pelas 21:30 horas. O primeiro filme da trilogia BRD (Bundesrepublik Deutschland) de Rainer Werner Fassbinder. “O filme começa na Alemanha em 1943. Durante um bombardeamento aliado Maria (Hanna Schygulla) casa com o soldado Hermann Braun (Klaus Löwitsch). Depois de ‘meio dia e uma noite inteira’ juntos, Hermann volta para a frente russa. No pós-guerra, Maria é informada que Hermann foi morto. Maria começa a trabalhar como anfitriã num bar frequentado por soldados americanos. Ela tem um caso com um soldado preto, Bill (George Byrd), que a sustenta e dá-lhe as meias de nylon e cigarros. Ela engravida de Bill”. – “O papel principal de Maria Braun era para ter sido desempenhado por Romy Schneider, a maior estrela alemã na época. Mas no final, Fassbinder, na altura bastante embrenhado nas drogas, aparentemente chamou-lhe ‘vaca estúpida’ e escolheu, em alternativa, Hanna Schygulla. Ele não tinha trabalhado com Schygulla há vários anos, e a carreira dela tinha ido rapidamente pelo cano abaixo depois de ter sido banida do círculo de Fassbinder por ter liderado uma revolta contra os salários baixos durante a produção de Effie Briest. Ele dissera-lhe então: ‘não suporto mais olhar para a tua cara. Tu rebentas-me os tomates’”. “Die Sehnsucht der Veronika Voss / A saudade de Veronika Voss” (1982), segundo filme da trilogia, estreia sexta-feira, dia 5 de novembro de 1982 no Quarteto sala 3. “O filme é vagamente baseado na carreira da atriz Sybille Schmitz [1] e é influenciado por Sunset Boulevard de Billy Wilder. Munique, 1955. Veronika Voss (Rosel Zech) é uma antiga popular atriz dos filmes UFA que agora luta por conseguir papéis. Conhece um jornalista desportivo chamado Robert Krohn (Hilmar Thate) e ficou impressionada por ele não saber que ela é. Os dois começam um caso amoroso, apesar de Robert já viver com a sua namorada Henriette (Cornelia Froboess [2]), que, contudo, percebe que Veronika tem um irresistível fascínio. O comportamento de Veronika é errático e muitas vezes desesperado, e consoante Robert mergulha na vida dela, descobre que ela é, essencialmente, uma prisioneira de uma neurologista corrupta chamada dra. Marianne Katz (Annemarie Düringer)”. – “Lilo Pempeit (também Liselotte Eder) que interpreta Chehm, a gerente de uma joalharia, era a mãe de Fassbinder. Günther Kaufmann, um dos ex-amantes de Fassbinder, entra nos três filmes do ciclo. Neste, ele é um enigmático marine preto. Juliane Lorentz, vista num breve papel de secretária, era colaboradora próxima de Fassbinder e editora deste filme; ela tornou-se na diretora executiva do espólio de Fassbinder, a Fundação Rainer Fassbinder, em 1992 [que escreve no YouTube: “este vídeo já não está disponível devido a uma reivindicação de direitos de autor apresentada por Rainer Werner Fassbinder Foundation]. Lorentz viu um artigo no Die Zeit sobre o caso jurídico de Schmitz e chamou a atenção de Fassbinder”. No filme Rosel Zech (1940-2011) canta “Memories Are Made of this”. Lola” (1981), último filme da trilogia BRD. “Em 1957-1958 em Coburg, na Alemanha Ocidental do pós-guerra, Schuckert (Mario Adorf) é um empresário da construção civil, cujos métodos de obtenção de riqueza, incluem práticas de negócios obscuros, tais como subornar as autoridades locais. O seu último esquema é ameaçado pela chegada de von Bohm (Armin Mueller-Stahl), um reto inspetor de construção. Von Bohm tenta instituir a mudança gradual do sistema a partir de dentro, em vez de expor os participantes. Entretanto, ele apaixona-se por uma bonita mulher chamada Lola (Barbara Sukowa). São atraídos um pelo outro e von Bohm começa a pensar em casamento. Von Bohm descobre que ela é uma cantora de cabaré e prostituta no bordel da cidade, onde a maior parte dos adversários de von Bohm são clientes, e que ela é o ‘brinquedo pessoal’ de Schuckert, e ele recolhe provas contra Schuckert para expor a corrupção. No entanto, porque a cidade beneficia muito com o capitalismo desonesto, estão-se todos nas tintas”.
___________________
[1] “A enigmática atriz permanece uma das figuras mais interessantes do cinema alemão. Apesar de ter alcançado o estrelato no início da sua carreira, a trágica Sybille Schmitz nunca encaixou no meio. Demasiado ‘aspeto estrangeiro’ para Hollywood, Schmitz nunca emigrou para a América como muitas das suas glamorosas colegas, e começou também a perder papéis na sua nativa Alemanha, devido à sua aparência vagamente semítica e os laços com a comunidade judaica. Depois da guerra, como muitas antigas estrelas da UFA [Universum Film Aktien Gesellschaft, estúdios de cinema durante a República de Weimar e o III Reich], Sybille foi vista como uma dolorosa lembrança do Terceiro Reich e foi mais uma vez preterida pelas otimísticas atrizes new look. Com a representação sendo a sua única razão para crescer, Sybille Schmitz começou a beber muito e a depender de drogas enquanto a sua carreira afundava-se mais e mais. Finalmente suicidou-se em circunstâncias misteriosas, a 13 de abril de 1955, enquanto era cuidada por uma médica lésbica corrupta com quem vivia na época da sua morte”. “O alcoolismo, abuso de drogas, depressão, várias tentativas de suicídio e internamento numa clínica psiquiátrica. O seu comportamento autodestrutivo e numerosos casos tanto com homens como mulheres afastou mais Sybille da indústria cinematográfica e do seu próprio marido, o argumentista Harald G. Petersson. Em 13 de abril de 1955, Schmitz suicidou-se com uma overdose de soporíferos, tinha 45 anos. Na altura da sua morte, Sybille vivia em Munique como uma mulher chamada Ursula Moritz, uma médica que alegadamente lhe vendeu morfina a preço inflacionado, e mantinha Sybille drogada enquanto esbanjava os poucos fundos que ela tinha disponíveis. A família de Schmitz alegou que, uma vez a atriz não ter utilidade para Moritz, a ‘boa doutora’ facilitou o seu suicídio. Um ano após a morte de Sybille Schmitz, foram apresentadas queixas contra a dra. Moritz por tratamento inadequado”. Alguns filmes: “Polizeibericht Überfall” (1928), curta-metragem de Ernö Metzner; “Vampyr” (1932)  de Carl Theodor Dreyer; em “Illusion in Moll” (1952), Sybille canta “Du bist Wunderbar” com Maurice Teynac.
[2] Cornelia Froboess era em 1951 a primeira vedeta infantil alemã com a composição de seu pai, Gerhard Froboess, “Pack die Badehose ein”. E foi ídolo adolescente nos anos 50 e 60. “Durante esse tempo, Froboess apareceu em muitos filmes musicais, especialmente depois de a onda rock and roll ter atingido a Alemanha. Nestas comédias, ela muitas vezes representava a típica Berliner Göre (“fedelha de Berlim”), que ambiciona independência de seus pais rigorosos”. Em 1962, representando a Alemanha no Festival da Eurovisão termina em sexto lugar com “Zwei kleine Italiener”. Algumas canções: “Das ist nichts für kleine Mädchen / Robinson-Mambo” no filme “Die große Star-Parade” (1954); “Blue Jean Boy” no filme “Der lachende Vagabund” (1958); “Wo ist der Mann” no filme “Der Traum des Lieschen Müller” (1961).

no aparelho de televisão

Mickey Spillane’s Mike Hammer” (1984-85), quintas-feiras, no final das emissões da RTP1, 31 de maio / 26 de julho de 1984. O tema do genérico é o clássico do jazzHarlen Nocturne”, escrito por Earle Hagen e Dick Rogers em 1939. A produção da série foi suspensa, porque Stacy Keach, em 1984, na Inglaterra para filmar a minissérie “Mistral’s Daughter”, foi preso no aeroporto de Heathrow com 35 gramas de cocaína, e a condenação a nove meses na prisão de Reading interrompeu as gravações. Ele foi libertado ao fim de seis por bom comportamento. – Mike Hammer, detetive de Nova Iorque, confiava nos seus punhos e na fiel “Betsy”, a pistola semiautomática Colt Modelo 1911A1 .45 ACP, para o safar de todas as embrulhadas. “Embora firmemente situada na década de 80, o tom da série também incorporava elementos do film noir, clássicos de detetives, como o Falcão de Malta. Por exemplo, cada episódio contava com a narração do protagonista em voz-off e, muito no arquétipo dos detetives duros de anos idos, Hammer raramente é visto sem o seu fato amarrotado, chapéu fedora e gabardina. Enquanto a sua vestimenta fazia uma declaração de moda particularmente estranha para a época, a justaposição do velho e do novo era o tema central da série [1]. “Smiley’s People” (1982), aos domingos à noite na RTP1, 5 de agosto / 9 de setembro de 1984, minissérie inglesa em seis partes, adaptação do livro homónimo de John Le Carré publicado em 1979. “Smiley’s People segue literalmente o enredo do romance original. Conta a história de George Smiley, chamado da reforma, quando um dos seus ativos / contactos, um general emigrado, é encontrado morto. Ligando as pontas soltas para o Circo [o MI6], os seus antigos empregadores, ele constata que o general Vladimir tinha descoberto uma operação clandestina dirigida pelo seu inimigo, Karla, para seu próprio beneficio. Smiley consegue usar a sua não conformidade com as regras contra Karla, forçando-o a desertar para o Oeste”. “21 Jump Street” (1987-91) c/ Johnny Depp, Holly Robinson, Peter DeLuise, Dustin Nguyen e Steven Williams, e na 3.ª temporada c/ Richard Grieco (que em 2013 trocará a representação pela pintura). Holly Robinson canta a canção do genérico, Johnny Depp e Peter DeLuise, os coros. Johnny Depp enjoava-se com o estatuto de ídolo adolescente conquistado na série, profissionalmente, cumpriu o contrato de 45 mil dólares por episódio até à penúltima temporada, com algumas sacanices. “À medida que Johnny Depp se tornava cada vez mais frustrado com a série, começou a colocar sugestões ridículas aos produtores para o seu personagem. Uma dessas sugestões incluía a descoberta pelos outros personagens que, Tom Hanson era obcecado por manteiga de amendoim, e seria descoberto pelos outros personagens besuntando-a sobre o seu corpo nu”. “A série centra-se num grupo de polícias com o seu quartel-general na morada do título. Estes agentes são todos jovens e têm, principalmente, aparências jovens, o que lhes permite passarem por adolescentes. As suas tarefas consistem usualmente em trabalho infiltrado em liceus ou, menos comummente, faculdades, onde geralmente investigam tráfico de droga e abuso. O enredo da série abrange questões como alcoolismo, crimes de ódio, abuso de drogas, homofobia, SIDA, abuso infantil e promiscuidade sexual. Conformemente, cada problema é muitas vezes resolvido no final da hora de episódio, dando uma moral implícita acerca do impacto de uma específica atividade”.   
___________________
[1]I, the Jury” (1953), originalmente filmado em 3D, sobre do primeiro livro de Mickey Spillane, com o detetive Mike Hammer, publicado em 1947. Estreia no cinema Éden sexta-feira, dia 27 de julho de 1956. “Pouco antes do Natal, em Nova Iorque, o investigador de seguros maneta Jack Williams (Robert Swanger) olha para uma foto de John Hansen no livro de curso, quando alguém se introduz no seu apartamento e dispara matando-o. O esbraseado detetive privado Mike Hammer (Biff Elliot), amigo de Jack da tropa, jura vingar a morte do seu amigo apesar de um aviso de Pat Chambers (Preston Foster), capitão da brigada de homicídios, para deixar a polícia tratar do caso”. O segundo livro (1950) foi “My Gun Is Quick” (1957), “num restaurante em Los Angeles, o rijo detetive privado Mike Hammer (Robert Bray) tem pena de Red (Jan Chaney), uma jovem que veio do Nebraska para tentar a sua sorte no cinema, mas está na mó de baixo”.

na aparelhagem stereo

Conspirações do Heavy Metal. ☻ Ozzy Osbourne encorajou o suicídio? “O capítulo mais trágico é aquele do fã de 19 anos, John McCollum, que se suicidou com um tiro em 1984, enquanto ouvia a faixa ‘Suicide Solution’. Os pais de McCollum processaram Osbourne e a sua editora, alegando que a música de Ozzy encorajava comportamentos autodestrutivos. A ação judicial foi rejeitada por motivos de liberdade de expressão”. Os advogados dos queixosos alegavam que um verso dessa canção dizia: “Why Try? Get the gun and shoot!”; para o letrista Bob Daisley e Osbourne o verso diz: “Get the flaps out”, calão inglês para pássara. ☻ Os Judas Priest encorajaram o suicídio? “Em 23 de dezembro de 1985, Ray Belknap deu a James Vance uma cópia de ‘Stained Class’, que ouviram no quarto de Ray enquanto bebiam cerveja e fumavam erva. Depois de destruírem o quarto, levaram a espingarda de Ray para o parque infantil junto da igreja. Ray colocou a arma debaixo do queixo e disparou. Morreu imediatamente. James pegou na espingarda que estava coberta de sangue. Colocou-a debaixo do seu próprio queixo e disparou. Sobreviveu. Quando James disparou, o tiro falhou o cérebro e os olhos, mas arrancou-lhe a boca e o nariz. Enquanto esteve vivo e desfigurado, enviou uma carta à mãe de Ray Belknap na qual culpava a música dos Judas Priest por ele e o Ray decidirem cometer suicídio. James Vance morreu em 1988. A ação contra os Judas Priest foi a julgamento em 1990. Enquanto Ken McKenna, o advogado das famílias, planeava a ação contra os Judas Priest, a sua equipa de especialistas ouviu o álbum Stained Class e examinou-o atentamente. Eles não podiam culpar as letras pelo suicídio, porque os tribunais já tinham decidido que os músicos não podem ser processados pelas letras, porque as letras das canções estão protegidas pela Primeira Emenda. (…). Havia uma brecha… mensagens subliminares. Em ‘Better By You, Better Than Me’, havia um som ouvido várias vezes durante a canção que soava como alguém a dizer ‘Do it!’. O juiz determinou que o caso podia avançar porque as mensagens subliminares não estavam cobertas pela Primeira Emenda. (…). O caso foi arquivado quando foi provado que os sons que causaram o ‘Do it’ vinham de duas faixas de gravação diferentes. O ‘Do it’ foi considerado um som acidental”. ☻ Os Mötley Crüe adoravam Satanás? “O álbum ‘Shout at the Devil’, dos Mötley Crüe, tem um aviso de que ele pode conter mensagens invertidas encobertas. Fãs afirmam que a faixa título, reproduzida ao contrário, revela o canto ‘Jesus é Satanás’.
Algum satanismo do heavy metal foi acidental como o dedo indicador e o mindinho no sinal dos cornos. Nos Black Sabbath, Ozzy Osbourne saudava o público com o “V”, sinal da vitória na Segunda Guerra Mundial, símbolo de Paz e Amor nos hippies, em 1979 Ronnie James Dio substituiu-o, e precisava de um sinal para atirar ao publico e imitar Ozzy não era opção. Optou pelo sinal dos cornos, Ronnie James Dio: “era um símbolo que eu achava um reflexo do que a banda era suposto ser. É uma coisa italiana que recebi da minha avó chamada mallocchio. Era para afastar o mau-olhado ou dar mau-olhado, dependendo da forma como se faz. É apenas um símbolo, mas tinha encantamentos e atitudes mágicas ligado a ele, e senti que funcionava bem com os Sabbath. Então, tornei-me bastante conhecido por ele, depois toda a gente pegou-o e espalhou-se”. Os cornos tiveram um uso civil, em 1975, durante um surto de cólera em Nápoles, o presidente da República Giovanni Leone apertava a mão dos doentes com uma e fazia os cornos com a outra. Na vida metal, anos antes, no disco de capa dupla, na foto interior, os cornos fizeram a sua primeira aparição. Numa missa negra, rodeavam o que era presumido ser a vocalista Jinx Dawson nua (não era ela) na laje de um altar ao Príncipe das Trevas, no álbum “Witchcraft Destroys Minds & Reaps Souls” (1969) dos Coven [1]. Meses depois da publicação, o álbum foi recolhido. Porque a revista Esquire publicara um artigo, “O mal espreita na Califórnia”, sobre os assassinatos da família Manson. Na campanha de promoção desse artigo, publicou uma foto de Charles Manson a sair de uma discoteca em Los Angeles com o disco dos Coven debaixo do braço.
☻ Jimmy Page fez um pacto com o diabo? “Esta é talvez a mais persistente teoria da conspiração que tem assombrado o heavy metal ao longo dos anos: o infame ‘pacto com o diabo’. Jimmy Page era bem conhecido por ter tido mais que um passageiro interesse no oculto, retirando até os quatro caracteres do mega popular Zeppelin 4 de livros centenários, que correu o boato de conterem magia negra. Mas foi o sucesso dos Led Zeppelin o resultado de um perverso pacto com o próprio Lúcifer? Afinal de contas, a Atlantic Records assinou um contrato de 200,000 dólares em 1968, sem nunca os ter visto tocar”. ☻ Darrell “Dimebag” Abbott lia a mente? Dimebag, ex-guitarrista dos Pantera, foi morto em palco com três balas durante uma atuação da sua banda Damageplan, a 8 de dezembro de 2004, no Alrosa Villa, Columbus, Ohio. O atirador, Nathan Gale, disparou quinze vezes uma Beretta 92FS 9 mm, matando Jeff “Mayhem” Thompson, chefe de segurança da banda, o empregado do clube Erik Halk, o espetador Nathan Bray, e ferindo mais sete, sem dizer uma palavra. Gale foi morto pelo agente James Niggemeyer com um tiro de uma espingarda Remington 870 calibre 12. Os motivos do ataque enterraram-se com ele “mas um diário aponta para indícios de esquizofrenia paranoide e uma suspeita de que Abbott podia ler a sua mente”. ☻ Tipper Gore, ociosa mulher de Al Gore, censurou o heavy metal? “Em 1985, Tipper Gore declarou guerra contra as letras explícitas na música pop, e encabeçou audiências de alto nível no Congresso, nas quais Dee Snider dos Twisted Sister e Frank Zappa foram chamados a depor. Apesar de forte oposição a tal ‘censura’, as audiências conduziram à criação de uma etiqueta ‘Explicit Lyrics’, que seria colocada em qualquer álbum considerado como tendo conteúdo ofensivo. Gore afirmou que estes rótulos eram simplesmente para ajudar os pais, mas alguns artistas afetados pela sua cruzada moralista não tinham tanta certeza”.
Na branda magia nacional:
Roxigénio, “formados em 1980, têm no líder António Garcez (ex-Psico, ex-Pentágono, ex-Arte & Ofício) um dos seus maiores trunfos. Filipe Mendes (guitarra, ex-Psico, ex-Heavy Band), José Aguiar (baixo, baixista dos Tarântula há mais de 20 anos) e Betto Palumbo (bateria) completam a formação original, que sofre várias alterações. Para a história do Heavy Metal nacional ficaram variadíssimos concertos, com destaque para aquele dado na edição de 1982 de Vilar de Mouros; e os álbuns Roxigénio, Roxigénio 2 (que inclui o êxito ‘Stiff Nicked Obstinated’) e Rock ‘n’ Roll Men (um fracasso comercial), além do single Song at Middle Voice”. “O LP ‘Roxigénio’, com uma bela capa, mas cujo conteúdo musical deixava algo a desejar. Cantando em inglês, o grupo tem muitas limitações a nível da pronúncia do idioma, apesar de Garcez ter cantado em inglês nos Arte & Ofício. O disco consegue algum sucesso no programa radiofónico Rock em Stock e o grupo alcança alguns dos seus objetivos. Apesar disso, o seu sonho de internacionalização esfuma-se com este disco pobre musicalmente e sem hipóteses de passar além de Portugal”. “Uma noite, em pleno Festival Só Rock, 1981, em Coimbra, Garcez lembra-se de ter ‘aviado umas canecas’ em companhia de Luís Filipe Barros e de entrar em palco a ‘100 por cento’. Num momento ‘high’ do show resolveu atirar-se de cima das colunas de som e caiu mal. O pior ainda estava para vir. O público, em pleno boom do rock português, não gostou de o ouvir cantar em inglês e gritou: ‘vai cantar para a América!’ António resolveu responder à letra: ‘ai é? uuuuuuuhhh’. Despiu as calças, tirou tudo para fora e gritou: ‘a América está aqui!’ No estádio encontrava-se o presidente da Câmara. Vários fotógrafos eternizaram a cena. ‘Até me fotografaram o rabo’. Foi investigado pela Polícia Judiciária: ‘tudo a rir e a dizer, 'ouve lá, a gente diz que só viu as cuecas...’. A exibição custar-lhe-ia o casamento. Os Roxigénio terminaram em 1983, depois de passagens agitadas por Aveiro e por Vilar de Mouros, em 1982, no ano em que lá foram os U2. Em Aveiro, numa festa de finalistas, Garcez foi presenteado com vários copos de cerveja. ‘Avisei que podia ser eletrocutado mas havia um gajo à frente do palco rodeado de miúdas e sempre a provocar. Como estávamos todos a tripar em ácido, de repente saí em voo e aterrei em cima dele e das miúdas. Só me lembro dele a chorar debaixo de mim e a dizer que só estava a brincar comigo. Levantei-me, o pessoal pegou em mim, colocou-me de novo no palco e o show continuou’. Mais tarde, um dos seguranças resolveu bater em alguém que tinha subido para o palco. ‘Foi o fim do mundo. O palco foi invadido, o segurança levou uma tareia e por fim apedrejaram-nos o camião da aparelhagem. Tivemos de ser escoltados pela polícia’. Em Vilar de Mouros, os Roxigénio pouco conseguiram tocar. ‘O pessoal que estava no festival tinha dificuldade em conseguir tabaco, comprei uns maços e resolvi distribuir, atirar para a plateia’. Ao fim de música e meia, a assistência invadiu o palco. Garcez bazou”. Luís Firmino “começou a tocar aos 17 anos em vários grupos. Foi membro fundador dos Aranha e Ananga-Ranga tendo chegado igualmente a tocar com Rão Kyao. Em 1980, com 28 anos, lançou-se a solo com o singleGuitarra do Rock’, disco que foi editado pela Metro-Som, a mesma editora dos Ananga-Ranga. Curiosamente ou talvez não, Branco de Oliveira, o dono da editora, é o responsável pelas letras dos temas editados no single, sendo Firmino o compositor das faixas. No disco participam Vasco Alves (baixo), Emanuel Ramalho (bateria, ex-Corpo Diplomático e Rádio Macau), Quintella de Mendonça (teclas, colaborador e músico assíduo dos Fleetwood Mac) e Joaquim Barros (percussão). Apesar do sucesso comercial ter sido nulo, o músico terá ainda a oportunidade de editar um segundo sete polegadas onde inclui os temas ‘Presidente dos Pastéis de Nata’ e ‘Rockenstein’. Face ao não reconhecido sucesso, Luís Firmino abandona o país, emigrando para os EUA”. Joker, “ex-Bar Califórnia de Cascais, formados no verão de 1990 pelo vocalista Tiago Gardner e o teclista José Tavares. Juntam-se a eles, Eduardo Pereira, baterista, Hugo Granger, baixo e Paulo Pereira, guitarra. Em setembro desse ano a banda toca o seu primeiro concerto no burgo natal de Cascais. Em dezembro, depois de vários concertos, a banda entra no estúdio Tcha Tcha Tcha para gravar a sua primeira demo, intitulada ‘Demo 90’, que incluía três faixas: ‘Little Susie’, ‘Bitten by the Snake’ e ‘Burning with Desire’. No início de 1991, o baterista Eduardo abandona a banda e Bruno Granger, irmão de Hugo, substitui-o. Entre abril e julho o grupo tocou oito vezes, entre Lisboa e Cascais. (…). Em novembro de 1992 o seu primeiro longa-duração, ‘Ecstasy’, é publicado. A 6 de novembro de 1992, os Joker abrem para os americanos Extreme e os ingleses Thunder, no Dramático de Cascais”, bilhete, venda antecipada: 3000$00, no dia: 3500$00, 5% IVA incluído → “Easy Come and Go”.
­___________________
[1] Jinx Dawson: “cheguei ao nome Coven, porque tinha feito uma extensa leitura sobre ocultismo e adorava filmes de terror clássicos. Estava muito interessada no paranormal, sociedades secretas, magia negra, e sabia que o nome Coven significava um grupo de 13 bruxas. Lembre-se, eu estava a fazer isto na reta final da paz, amor, dos anos hippies, e o clima do país na época estava a ficar negro e caótico com muitos assassinatos, motins contra a guerra do Vietname e tal. Então pensei que as pessoas se interessariam pelas ideias em que eu estava metida. E com a minha educação em ópera, queria pôr estas ideias em música para fazer uma espécie de teatro ópera rock gótica, algo que ninguém nunca tinha feito antes”. “Conheci o John Wayne na estreia do filme Cowboys. Ele ficou tão bêbedo que perdeu o capachinho… eu nem sabia que ele usava um”.